
Boogie Woogie de Luiz Aquila | Curadoria de Renata Azambuja
Em 1995, a Referência Galeria de Arte abriu suas portas num gesto ousado, iniciando na capital da República um trabalho complexo e dependente de inúmeras circunstâncias para prosperar. Apesar das dificuldades e incertezas daquele primeiro ano, a galeria chegou a 1996, quando passou a receber diversas propostas de trabalho e de exposições, mesmo em meio ao clima de inexperiência e aprendizado que ainda a acompanhava. Entre essas propostas, destacou-se o projeto Um Olhar Sobre o Outro, com obras de Luiz Aquila e Mônica Barki, duas individuais com curadoria de Lauro Cavalcanti — três nomes já consolidados no cenário artístico, especialmente no Rio de Janeiro —, marco que contribuiu para a consolidação da Referência no mercado de arte nacional. A partir desse momento, Luiz Aquila passou a integrar o grupo de artistas da galeria, participando de coletivas, feiras de arte em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de reencontros em exposições suas realizadas em outras cidades. “Era natural o desejo de que Luiz Aquila estivesse presente nessa celebração, como sempre esteve nos muitos momentos da trajetória da galeria”, afirma a galerista Onice Moraes.
Em novembro, em comemoração aos 30 anos da Referência Galeria de Arte, Luiz Aquila retorna a Brasília para a sua primeira individual na cidade em 16 anos. O pintor carioca ocupará as duas salas de exposição da Referência com a mostra inédita “Boogie Woogie”, uma série de pinturas, gravuras e serigrafias inéditas. Com curadoria de Renata Azambuja, a exposição abre no dia 25 de novembro, das 18h às 20h. Em exibição até 17 de janeiro de 2026, a mostra pode ser vista de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado das 10h às 15h. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos. A Referência Galeria de Arte fica na CLN 202 Bloco B Loja 11 Subsolo, Asa Norte, Brasília - DF. Telefone: +55 (61) 3963-3501; WhatsApp: +55 (61) 981-623-111. No Instagram, @referenciagaleria.
Luiz Aquila criou uma linguagem cromática própria, desenvolvida a partir dos anos 1960. A curadora Renata Azambuja afirma que o artista caminha há seis décadas em paralelo à produção contemporânea. “Sua pintura pode dar a impressão de estar na contramão do que trata a arte contemporânea de hoje, que busca uma narrativa, uma crítica ou uma ironia. Mas é justamente o contrário”, afirma a curadora. A obra de Aquila nos faz pensar sobre o tempo, o espaço, o caos, a liberdade, o corpo, a presença e a ausência do sensório. Aquila se mantém nessa espécie de insistência do pintar dessa maneira. Muito vibrátil, alegre, ousada e, de certa maneira, despudorada.
“As obras de Aquila aproximam-se mais do espírito agitado e improvisado do gênero, embora também recorram à repetição, na medida em que cada peça se comunica com as demais pelas vibrações das cores e linhas que, no espaço, se organizam como conjunto.”
Renata Azambuja, curadora
A colaboração entre artista e curadora nasce de uma afinidade conceitual e afetiva, sustentada pela convicção de Aquila de que a cor desencadeia respostas sensíveis imediatas. É a partir desse entendimento e do “modo-desenho” — procedimento que o artista reconhece como pensamento em ato — que se estrutura a seleção das obras apresentadas. O reencontro entre artista e curadora por ocasião da realização da mostra “História(s) da arte brasileira | multiplicidade da coleção Moraes e Oliveira” (CAIXA Cultural Brasília, 2025), ativou memórias da permanência de Aquila em Brasília e da convivência com nomes fundamentais da Universidade de Brasília. Nesse processo, veio à tona o núcleo poético de sua trajetória: uma linguagem cromática própria, desenvolvida desde os anos 1960, que sustenta seis décadas de produção em paralelo às tendências contemporâneas. Sua pintura, vibrátil, ousada e alegre, convida a refletir sobre tempo, espaço, caos, liberdade, corpo e presença sensorial, insistindo numa maneira de pintar que resiste a narrativas e modismos, afirmando-se por sua autonomia e força interna.
Uma pintura de 1978 foi escolhida como ponto de partida para o percurso expositivo, evocando as viagens do artista pelo interior de Goiás e a paleta “diluída a cal” observada nas arquiteturas e nas paisagens humanas da região. A partir dela, desdobra-se uma compreensão ampliada de sua prática, na qual a pintura se apresenta como campo de tensão e ressonância, articulando formas, linhas e massas de cor que operam sem subordinação a regras prévias. Para Áquila, o trabalho se constitui como processo contínuo, que retorna a si mesmo em diferentes momentos, como se vê em A pintura e o pintor no espaço (2000–2025) e nas séries A pintura bem na fita e A pintura antes da fita (2025). Segundo o artista, cada retomada transforma a pintura, revelando novas conexões e emergências do inconsciente. Assim, mesmo diante da sucessão de fases e movimentos da arte brasileira, Aquila mantém o compromisso de evolucionar dentro de seu próprio percurso, nutrindo uma poética marcada pelo desejo profundo de liberdade, perceptível nas sinuosidades, nas geometrias intuitivas e nas massas cromáticas que caracterizam sua obra.
Essa lógica de transformação constante encontra novo fôlego na série Boogie-Woogie, criada especialmente para a mostra, em que o artista dialoga com o espírito improvisado do blues. São pequenas pinturas sobre papel que se comunicam pela vibração cromática e pela estrutura rítmica, formando um conjunto instalativo sem perder a autonomia de cada peça. A expansão da pintura para materiais e suportes alternativos — como o Macião (2015), sobre tecido, e os Bacalhaus (2003), sobre bambu e papel — reafirma sua relação direta com o mundo, incorporando o acaso e o imprevisto como elementos estruturadores. Assim, Aquila confirma sua condição de artista em permanente processo, um verdadeiro work in progress, cuja obra se renova continuamente e afirma sua singularidade dentro do panorama da arte contemporânea.
Luiz Aquila no IdA da UnB
No dia 24 de novembro, às 16h, Luiz Aquila retorna ao Instituto de Arte da Universidade de Brasília (IdA-UnB) para uma conversa no Auditório do IdA. Com entrada gratuita e livre para todos os públicos, o encontro com a comunidade acadêmica e o público interessado em conhecer sobre o pensamento do artista em pintura será precedido da apresentação do documentário “Tela sobre tinta – Luiz Áquila”, de Malu de Martino (2021). O evento é coordenado por Cinara Barbosa, professora do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília.
Sobre o artista
Luiz Aquila é um dos mais ativos artistas brasileiros. Foi professor em Évora, Portugal; Universidade de Brasília; Centro de Criatividade da Unesco-DF e EAV Parque Lage-RJ, da qual foi diretor. Participou de mais de cem de exposições individuais e coletivas, como Bienal de Veneza; 17ª e 18ª Bienais SP e Brasil Século XX, 1994; retrospectivas no MAM-RJ, 1992; MASP-SP, 1993; Paço Imperial 2012 além de mostras individuais em importantes museus e galerias de 1963 a 2019.
Luiz Aquila foi professor e diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde exerceu grande influência sobre a Nova Pintura Brasileira, Geração 80. Nasceu em 27 de fevereiro de 1943, no Rio de Janeiro, e iniciou-se nas artes através de seu pai, o artista plástico e arquiteto Alcides da Rocha Miranda. Foi aluno de Aluísio Carvão, pintura, no MAM-RJ e de xilogravura de Oswaldo Goeldi na Escola Nacional de Belas Artes. Frequentou cursos livres na Universidade de Brasília (UnB), foi bolsista do Governo Francês em Paris, do British Council em Londres, e da Fundação Gubekian em Lisboa e Évora. Ao longo da carreira, participou de mais de 200 exposições (individuais e coletivas) no Brasil e no exterior, e foi chamado pelo crítico Frederico Morais de “herói de sua própria pintura”. Participou da 17ª, 18ª e 20ª Bienal Internacional de São Paulo em 1983, 1985 e 1989, respectivamente, e da Bienal de Veneza. Em 1988, transferiu-se para Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Em 1992, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e, em 1993, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) realizaram mostras retrospectivas de seu trabalho. Em 2003, exposição individual no Museu de Arte Contemporânea (MAC-Niterói). Em 2013, o artista comemorou cinco décadas de trajetória com uma grande retrospectiva no Paço Imperial. E em 2019 realizou no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) a individual “Luiz Aquila III Milênio – criação em aberto.”
Sobre a curadora
Renata Azambuja é historiadora da arte, curadora e arte-educadora. Licenciada em Artes Plásticas pela UnB, Mestre em Teoria e História da Arte Moderna e Contemporânea pelo City College/City University of New York e doutora em Teoria e História da Arte pela UnB, realizando uma pesquisa em torno dos modos de produção de conhecimento da curadoria, tendo a residência como foco. Recentemente criou os sites https://www.escritosdecuradoria.com/ e https://www.xn--artessrio-51a.com.br/ onde publica artigos, textos curatoriais e outros escritos de arte de sua autoria e de pesquisadores e curadores convidados.
Referência 30 anos
No dia 25 de novembro de 1995, Onice Moraes e José Rosildete de Oliveira inauguraram a Referência Galeria de Arte. Em sua primeira mostra, a galeria abriu ao público com uma exposição icônica que trouxe para Brasília uma exposição inédita de Amilcar de Castro. A essa, seguiram-se várias exposições importantes como individuais de Athos Bulcão, Carlos Vergara, Claudio Tozzi, e de jovens artistas que hoje são destaque na cena das artes. Em 2004, junta-se à sociedade Paulo Moraes de Oliveira, filho do casal, que passa a administrar e tomar parte nas decisões estratégicas da empresa. Com 30 anos de atuação no mercado de arte, a Referência traz para o ambiente da galeria e para espaços institucionais artistas com trajetórias consolidadas, em meio de carreira e iniciantes, em especial de Brasília e do Centro-Oeste.
A galerista Onice Moraes ressalta a importância de apresentar e dar visibilidade aos artistas visuais e curadores da região central do Brasil e de outras regiões fora dos eixos hegemônicos do sistema da arte brasileiro como forma de oferecer ao artista a oportunidade de ter seus trabalhos adquiridos pelo público e pelas instituições.
“As coleções de arte, sejam de colecionadores iniciados ou de iniciantes, precisam incluir os artistas de sua região e de seu tempo. Arte é investimento, é decoração e, acima de tudo, é um registro da história e da reflexão sobre um momento específico dessa construção histórica”, diz Onice Moraes. “Um dos papéis do galerista é orientar a mirada dos colecionadores para esses artistas que produzem em sua vizinhança. Todos podem se beneficiar com a inclusão de artistas da região nas coleções privadas: as coleções ganham importância, ficam mais representativas e diversas”, afirma a galerista.
Serviço:
Boogie Woogie
Pinturas, gravuras e serigrafias
De | Luiz Aquila
Curadoria | Renata Azambuja
Onde | Sala Principal e Sala Acervo
Horário: De segunda a sexta, das 10h às 19h e sábado, das 10h às 15h
Entrada: Gratuita
Classificação indicativa: Livre para todos os públicos
Endereço: 202 Norte Bloco B Loja 11, Subsolo Asa Norte – Brasília-DF
Telefone: (+55 61) 3963-3501
WhatsApp: (+55 61) 98162-3111
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