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A Seco

A Seco

Com um trabalho marcado pela busca da história contida nas camadas de tintas das paredes de sua casa, artista brasiliense apresenta três séries de sua mais recente produção onde subverte as técnicas de pintura, gravura, escultura e performance

No próximo dia 12 de dezembro, sábado, a partir das 17h, a Referência Galeria de Arte inaugura a mostra A Seco, de João Angelini. Utilizando técnicas que vão da pintura à gravura, passando pela escultura e a performance, o artista visual apresentará três séries que exploram e subvertem os limites da arte em favor de uma poética de força extraordinária. Com curadoria de Carlos Ferreira, a exposição fica em cartaz até o dia 16 de janeiro de 2016, com visitação de segunda a sexta, das 12h às 19h, e sábado das 12h às 17h. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos. A Referência Galeria de Arte fica na 205 Norte, Bloco A, Loja 9, Brasília-DF. Telefones: (61) 3361-3501 e (61) 8162-3111.

Segundo os preceitos clássicos, a pintura é a arte de colocar tinta para criar uma imagem. A escultura retira camadas de material até alcançar a forma. A gravura é feita a partir da escavação de uma placa de madeira, pedra ou metal que recebe tintas e é colocada contra uma folha de papel onde a imagem será revelada. Nesta exposição, João Angelini manipula a materialidade das imagens por meio da pictorialidade, subvertendo as técnicas.

Na exposição que desembarca na Referência Galeria de Arte, João Angelini “dá testemunhos de sua vida”, afirma Carlos Ferreira em seu texto curatorial. Os trabalhos mesclam aspectos biográficos com as histórias incorporadas nas experiências artísticas, “como participantes de uma existência coletiva, cujos limites se ampliam”, continua. “As paredes guardam a memória das várias camadas de tinta que foram sobrepostas... As camadas de tinta podem ser planejadas e articuladas de um modo tal que favoreçam a intervenção de um gesto artístico. Aí, a pintura é quase uma arqueologia, construída de cima para baixo, em estratigrafias complexas”, completa o curador.

A Seco é fruto de uma intensa pesquisa de materiais e técnicas iniciada em 2007 e que agora vem à luz em uma mostra que reúne três séries distintas com um único fio condutor, os rastros de memória deixados nas paredes das casas. A poética e o lirismo na obra de João Angelini buscam resgatar a história, inicialmente no rastro das muitas experiências vividas na casa, onde o inesperado sempre joga um papel importante na construção da imagem, uma vez que ele não sabe quais cores e texturas irá encontrar em seu percurso. De posse dessa informação, ele passa para uma experiência ativa do processo.

A primeira série, que também dá nome à exposição, A Seco – em oposição a afresco – é resultado da raspagem de paredes da casa da família do artista em Planaltina de Goiás. Um trabalho de “exploração arqueológica” que mostrou inúmeras camadas de tintas nas mais variadas cores. Das escavações surgem as séries Azulejos e a Linha do Tempo, feitos de lascas das camadas de tinta que recobriam as paredes. São séries construtivas, de formato quadrangular, que guardam em si uma referência direta à obra de Athos Bulcão.

Observando a forma como as camadas de tinta se sobrepunham, João Angelini aplicou camadas de tinta de várias cores sobre placas de gesso acartonado para criar a série Sobotta e não morra. Inspirado em um livro clássico de medicina Sobotta Atlas de anatomia humana, do médico alemão Johannes Sobotta, o artista desenha órgãos e partes do corpo apresentados pela publicação para em seguida escavar a massa e revelar as formas desejadas. O interesse pela forma humana, João herdou do pai, médico, quem lhe apresentou o livro de Sobotta. Às imagens, acrescenta frases impressas por meio de carimbos feitos com tipos gráficos, que ao longo do tempo perderão a cor até restar apenas a memória do que ali existiu um dia. Por fim, a terceira série leva para pratos de louça os desenhos de Sobotta, que desta vez são executados com técnica de gravação em baixo relevo, utilizando uma broca de dentista. Os sulcos serão entintados com sangue do próprio artista, em uma performance que será realizada diante do público na abertura da exposição, no sábado 12 de dezembro.

Durante a semana de montagem da exposição, entre os dias 9 e 11 de dezembro, João Angelini irá realizar um trabalho em uma das paredes da galeria, criando assim um eixo de memória entre a casa, o ateliê e o espaço expositivo. A intervenção e a progressão do trabalho poderá ser assistida pelo público, , das 15h às 19h.

Sobre João Angelini

Membro do Grupo EmpreZa de Goiânia desde 2008 e co-fundador do coletivo TresPe de Brasília, ambos com o foco em performance, João Angelini é professor de gravura, animação e tridimensionalidade da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, onde leciona desde 2008. Tem na imagem em movimento o maior ponto de partida para suas pesquisas, que tem desdobramentos em vídeos, animações, fotografias, gravuras, performances e brinquedos. Pela diversidade da produção, tem seus trabalhos publicados regularmente em eventos de diferentes meios institucionais como cinema, teatro, shows de rock e galerias de arte. Suas premiações tem a mesma diversidade: como festival Anima Mundi 2009 (Júri Popular/SP) e Bolsa Funarte de Produção 2010, Arte Pará 2012. Em março deste ano, junto com o Grupo EmpreZa, realizou performances no Sesc Pompéia – São Paulo - junto com a artista performer, Marina Abramovich. Em abril, junto com o Grupo Empreza, venceu o prêmio Marcantonio Villaça. Em setembro, participou da mostra Rumos, do Itaú Cultural – São Paulo.

20 anos de Referência

A mostra de João Angelini encerra a programação de exposições da Referência Galeria de Arte em 2015, ano em que a galeria completou 20 anos de atuação. A data foi celebrada pelos sócios Onice Moraes e Paulo Oliveira, com a realização da mostra coletiva Parede cheia de histórias, com os trabalhos de 38 artistas visuais que fazem ou fizeram parte da construção e consolidação da empresa no mercado de arte de Brasília e do País. Para finalizar a agenda de eventos deste ano, no próximo dia 19 de dezembro, a partir das 17h, a Referência realiza o lançamento do livro do artista visual Leopoldo Wolf.

Serviço:
A Seco
De João Angelini
Abertura: 12 de dezembro - Das 17h às 21h
Visitação:
De 12 de dezembro a 16 de janeiro
De segunda a sexta, das 12h às 19h
Sábados, das 12h às 17h

Referência Galeria de Arte
205 Norte, Bloco A, Loja 9, Brasília-DF
Telefones: (61) 3361-3501 e (61) 8162-3111
Entrada Gratuita e Livre para todos os públicos

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Claudio Tozzi

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