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Referência Galeria de Arte em Brasília
Artista R Godá

Máquinas inventadas, arte popular, natureza e sustentabilidade | Quatro perguntas para R.Godá

Desde sua última individual em Brasília já se vão seis anos. Na segunda quinzena de setembro, o artista visual R.Godá abre uma individual na Referência Galeria de Arte com oito pinturas gestadas nos últimos quatro anos, mas produzidas nos dois anos mais intensos da pandemia. “Ou fazia esses detalhes todos ou enlouqueceria”, diz o artista de Goiânia que desde o final dos anos 1990 expõe seus trabalhos que mergulham o espectador em uma “aventura fantástica e irônica”, como escreve o crítico de arte do jornal italiano La Repubblica sobre a exposição realizada em Roma, 2019. Considerada uma das cinco melhores exposições para visitar naquele ano na Europa, a mostra apresentou um artista com total domínio sobre seu trabalho que dialoga com a arte de rua, com o campo e com a cidade, com “o surrealismo no Brasil, de Ismael Nery e Cícero Dias, incrementada com elementos da Pop Arte e HQs”, como afirmou em 2019 o curador e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Aguinaldo Coelho.

Em conversa com o Blog da Referência, R.Godá conta um pouco do que apresentará na mostra em Brasília, como as suas influências a partir da arte popular, de Siron Franco, de  Cora Coralina, sua relação com o skate, o breakdance e o grafite, Gilberto Chateaubriand e a sustentabilidade como pano de fundo para seu surrealismo tropical.    

Blog da Referência – Há duas questões no seu trabalho que de cara saltam aos olhos: A primeira é um mundo de fantasia feito de máquinas inventadas para criar coisas novas; a segunda é uma imersão em uma natureza. Como esses dois mundos distintos e semelhantes se relacionam no seu trabalho?

R.Godá – Vem desde que meu trabalho assumiu identidade própria. As influências são os cartoons, filmes de época, animes, HQ. Busco propor um equilíbrio necessário a partir da difícil problemática da sustentabilidade ambiental que nossa época enfrenta. Considero imprescindível a simbiose harmônica entre natureza e tecnologia para reverter o apocalipse em que vivemos.

B.R – Em 2019, você realizou uma mostra individual na Itália (considerada pelo site Artnet como uma das mais importantes daquele ano), e o curador ressaltou uma característica do seu trabalho que ele chamou de “surrealismo tropical”. Do Cerrado que gerou Cora Coralina e Siron Franco, só para citar alguns, o surreal é um ingrediente a mais na História da Arte do Centro-Oeste. Como você se relaciona com essa tradição? O que dela existe no seu trabalho?

R.G. – A cultura brasileira é fonte inesgotável de inspiração. Cora Coralina e Siron Franco, meus conterrâneos, fazem parte da minha formação artística e humana. Estão presentes desde o início do meu trabalho e, hoje, noto que estão no meu inconsciente. Cresci buscando assimilar suas lições técnicas e morais, lendo, vendo exposições, assistindo a documentários, visitando suas casas e ateliês. A obra desses artistas é crítica ao fazer referência à natureza, aos povos indígenas, ao olhar poético para superar a dureza do dia a dia. Siron me marcou, especialmente, com seu trabalho sobre o acidente radioativo com o Césio 137. Devemos nos lembrar também de D.J Oliveira, Antônio Poteiro, Roos. Aprendi que a arte é uma potente linguagem para propor reflexões que não podem ser abafadas pelos poderes constituídos.

B. R. – Você já disse em algum momento que admira e tem uma coleção de arte popular. Seu trabalho, por outro lado, parte do grafite e da arte de rua. Esses elementos seguem de alguma forma presentes no seu trabalho atual? Como eles se relacionam com a sua produção?

R.G. – Minha coleção de arte popular decorre da admiração que tenho pelos mestres e mestras. O Brasil possui grandes artistas como José Antônio da Silva, Manoel Graciano, Zezinha do Jequitinhonha, dentre outros. Como eu, esses(as) artistas não tiveram formação acadêmica e, no entanto, seu trabalho fala sobre questões folclóricas/culturais, ambientais, sociais, políticas e econômicas de forma muito eloquente e com primor artístico. Busco seguir nessa direção. Por outro lado, cresci presenciando e participando de eventos de arte urbana na periferia, vendo e admirando grafite, hip hop, breakdance, skate – tudo isso é parte integrante do artista que sou.

B.R. – Desde 1999, você expõe no Brasil e no exterior. Suas obras fazem parte de acervos importantes, como o do colecionador recém falecido Gilberto Chateaubriand. Passada a pandemia, muito em breve, você volta a expor em Brasília.  O que você vai mostrar na Referência em setembro?

R.G. – Será exposta uma série de pinturas que me tomou tempo, em função de muitos detalhes e ornamentos. Ela me ocupa há cerca de quatro anos. De certa forma, é uma nova fase do meu trabalho, construído no período angustiante da pandemia. É um trabalho inédito com ilusórias máquinas voadoras, aquáticas e terrestres feitas de sucatas, vegetais, corais, animais e criaturas fantásticas. Aproveito para fazer uma homenagem a Gilberto Chateaubriand, que, por ocasião da inauguração do Museu de Arte Contemporânea de Goiânia, visitou meu ateliê por intermédio do professor Aguinaldo Coelho (UFG), no início dos anos 2000. Ele adquiriu um importante acervo que foi direto para sua coleção no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde mais de uma vez foi mostrado ao público em exposições de relevo, como a exposição itinerante Um Século de Arte Brasileira. Devo muito a Gilberto Chateaubriand.

Artista R Godá

Máquinas inventadas, arte popular, natureza e sustentabilidade | Quatro perguntas para R.Godá

Desde sua última individual em Brasília já se vão seis anos. Na segunda quinzena de setembro, o artista visual R.Godá abre uma individual na Referência Galeria de Arte com oito pinturas gestadas nos últimos quatro anos, mas produzidas nos dois anos mais intensos da pandemia. “Ou fazia esses detalhes todos ou enlouqueceria”, diz o artista de Goiânia que desde o final dos anos 1990 expõe seus trabalhos que mergulham o espectador em uma “aventura fantástica e irônica”, como escreve o crítico de arte do jornal italiano La Repubblica sobre a exposição realizada em Roma, 2019. Considerada uma das cinco melhores exposições para visitar naquele ano na Europa, a mostra apresentou um artista com total domínio sobre seu trabalho que dialoga com a arte de rua, com o campo e com a cidade, com “o surrealismo no Brasil, de Ismael Nery e Cícero Dias, incrementada com elementos da Pop Arte e HQs”, como afirmou em 2019 o curador e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Aguinaldo Coelho.

Em conversa com o Blog da Referência, R.Godá conta um pouco do que apresentará na mostra em Brasília, como as suas influências a partir da arte popular, de Siron Franco, de  Cora Coralina, sua relação com o skate, o breakdance e o grafite, Gilberto Chateaubriand e a sustentabilidade como pano de fundo para seu surrealismo tropical.    

Blog da Referência – Há duas questões no seu trabalho que de cara saltam aos olhos: A primeira é um mundo de fantasia feito de máquinas inventadas para criar coisas novas; a segunda é uma imersão em uma natureza. Como esses dois mundos distintos e semelhantes se relacionam no seu trabalho?

R.Godá – Vem desde que meu trabalho assumiu identidade própria. As influências são os cartoons, filmes de época, animes, HQ. Busco propor um equilíbrio necessário a partir da difícil problemática da sustentabilidade ambiental que nossa época enfrenta. Considero imprescindível a simbiose harmônica entre natureza e tecnologia para reverter o apocalipse em que vivemos.

B.R – Em 2019, você realizou uma mostra individual na Itália (considerada pelo site Artnet como uma das mais importantes daquele ano), e o curador ressaltou uma característica do seu trabalho que ele chamou de “surrealismo tropical”. Do Cerrado que gerou Cora Coralina e Siron Franco, só para citar alguns, o surreal é um ingrediente a mais na História da Arte do Centro-Oeste. Como você se relaciona com essa tradição? O que dela existe no seu trabalho?

R.G. – A cultura brasileira é fonte inesgotável de inspiração. Cora Coralina e Siron Franco, meus conterrâneos, fazem parte da minha formação artística e humana. Estão presentes desde o início do meu trabalho e, hoje, noto que estão no meu inconsciente. Cresci buscando assimilar suas lições técnicas e morais, lendo, vendo exposições, assistindo a documentários, visitando suas casas e ateliês. A obra desses artistas é crítica ao fazer referência à natureza, aos povos indígenas, ao olhar poético para superar a dureza do dia a dia. Siron me marcou, especialmente, com seu trabalho sobre o acidente radioativo com o Césio 137. Devemos nos lembrar também de D.J Oliveira, Antônio Poteiro, Roos. Aprendi que a arte é uma potente linguagem para propor reflexões que não podem ser abafadas pelos poderes constituídos.

B. R. – Você já disse em algum momento que admira e tem uma coleção de arte popular. Seu trabalho, por outro lado, parte do grafite e da arte de rua. Esses elementos seguem de alguma forma presentes no seu trabalho atual? Como eles se relacionam com a sua produção?

R.G. – Minha coleção de arte popular decorre da admiração que tenho pelos mestres e mestras. O Brasil possui grandes artistas como José Antônio da Silva, Manoel Graciano, Zezinha do Jequitinhonha, dentre outros. Como eu, esses(as) artistas não tiveram formação acadêmica e, no entanto, seu trabalho fala sobre questões folclóricas/culturais, ambientais, sociais, políticas e econômicas de forma muito eloquente e com primor artístico. Busco seguir nessa direção. Por outro lado, cresci presenciando e participando de eventos de arte urbana na periferia, vendo e admirando grafite, hip hop, breakdance, skate – tudo isso é parte integrante do artista que sou.

B.R. – Desde 1999, você expõe no Brasil e no exterior. Suas obras fazem parte de acervos importantes, como o do colecionador recém falecido Gilberto Chateaubriand. Passada a pandemia, muito em breve, você volta a expor em Brasília.  O que você vai mostrar na Referência em setembro?

R.G. – Será exposta uma série de pinturas que me tomou tempo, em função de muitos detalhes e ornamentos. Ela me ocupa há cerca de quatro anos. De certa forma, é uma nova fase do meu trabalho, construído no período angustiante da pandemia. É um trabalho inédito com ilusórias máquinas voadoras, aquáticas e terrestres feitas de sucatas, vegetais, corais, animais e criaturas fantásticas. Aproveito para fazer uma homenagem a Gilberto Chateaubriand, que, por ocasião da inauguração do Museu de Arte Contemporânea de Goiânia, visitou meu ateliê por intermédio do professor Aguinaldo Coelho (UFG), no início dos anos 2000. Ele adquiriu um importante acervo que foi direto para sua coleção no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde mais de uma vez foi mostrado ao público em exposições de relevo, como a exposição itinerante Um Século de Arte Brasileira. Devo muito a Gilberto Chateaubriand.

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Claudio Tozzi

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